Friday, June 29, 2007

Olá

Diz o Pedro Mexia que "segundo um estudo da Universidade de Chicago, a frase de engate mais eficaz é «hi» («olá»). Séculos de civilização para chegarmos a isto."

Ao menos chegamos a algum lado, certo?
Sempre é melhor do que estar em parte incerta...

Caminhadas ao luar

Nos últimos dias, por virtude do destino, dou por mim a caminhar ao luar, vento na cara, ipod a todo o vapor, passo apressado estrada fora.
Há nisto tudo uma grande sensação de liberdade.
às vezes é tão grande que só tenho vontade de começar a correr desenfreadamente e não parar...

Hoje mudei de escritório, para a sala do lado. A sala T.
Estou ao pé da janela, onde bate o sol.
Arrumei as capas, as canetas, os apontamentos, os livros.
E sentei-me com aquela mesma impressão de primeiro dia de aulas.

É quinta-feira. Dia do lixo. Dia de despejar coisas fora. Vou lá baixo e já volto para dormir.

Tuesday, June 26, 2007

A sorte protege os audazes...

Quanto mais livre me sinto, mais aspiro a ir além.

Em busca de sublimes desejos parto, para regressar depois, mais terrena do que nunca.

Com outra luz vejo agora e aprendo a conhecer esta mulher no espelho pela manhã.
Tantas linhas atadas, outras cicatrizes desenhadas...

há uma infinita proporção que me circunscreve:
é o perímetro de uma razão delimitado pela vontade de quem se atreve.

Friday, June 22, 2007

Solsticio e uma pergunta

Vieram os primeiros raios de sol.
Ela tinha dormido pouco, a noite fora curta de escura, mas longa de histórias.

Ao seu lado, estava ele, numa cama quente, num quarto desalinhado, inundado de uma luz coada de primeiro dia de verão.
E aquele homem, ali estendido, conservava no rosto adormecido, uma certa inocência e fragilidade.
Na manhã seguinte, sem muitas palavras, ele tomou o café e saiu.
Parecia envergonhado.

Ela pensou: quantas vezes imaginara esta mesma cena, este homem, nesta cama, numa qualquer manhã?
Terão razão os livros e os homens quando dizem que as fantasias se desfazem quando vividas?

Wednesday, June 20, 2007

Pile et face

No fio da navalha, existem sempre dois lados.
Um quente, outro frio.
Do cerebral, ao visceral.
Trava e empurra.
Arestas de uma mesma história.

OST do momento: Ouço a Carla Bruni:

J'en connais des qui charment,
Des qui me laissent femme,
J'en connais qui me pâment...

J'en connais tant tellement ça me prend tout mon temps,
Et même ma maman qui m'adore tendrement,
Elle me dit : "C'est pas bien, ce n'est pas bon tout ce rien,
Reprends ton droit chemin..."

J'en connais des superbes,
Des bien-mûrs, des acerbes,
Des velus, des imberbes,
J'en connais des sublimes,
Des mendiants, des richissimes,
Des que la vie abîme...

J'en connais dans chaque port,
Dans chaque Sud, dans chaque Nord,
J'en connais sans efforts,
J'en connais qui vont dire,
Que je suis bonne à maudire,
Et moi ça me fait sourire...

Tuesday, June 19, 2007

Come Again

Ao som das músicas de John Dowland, (viva a Deutsche Gramophon e o itunes) cai a noite de mansinho.
Inspiram uma grande calma estas melodias. E induzem ao pensamento.

Recebi pela tarde do poeta louco um email. Continha a letra da música que me intrigou na sexta-feira.
Chama-se Come Again e é de 1597. Aqui vai:

Come again, sweet love doth now invite.
Thy graces that refrain, to do me due delight.
To see, to hear, to touch, to kiss, to die,
with thee again in sweetest sympathy.

Come again, that I may cease to mourn.
Through thy unkind disdain, for now left and forlorn.
I sit, I sigh, I weep, I faint, I die,
in deadly pain and endless misery.

All the day, the sun that lends me shine,
By frowns do cause me pine, and feeds me with delay.
Her smiles, my springs, that makes, my joys, to grow,
her frowns the winters of my woe.

All the night, my sleeps are full of dreams,
My eyes are full of streams, my heart takes no delight.
To see, the fruits, and joys, that some, do find,
and mark the storms are me assigned.

Out alas, my faith is ever true.
Yet will she never rue, nor yield me any grace.
Her eyes, of fire, her heart, of flint, is made,
whom tears nor truth may once invade.

Gentle love, draw forth thy wounding dart.
Thou canst not pierce her heart, for I that do approve.
By sighs, and tears, more hot, than are, thy shafts,
did tempt while she for triumph laughs.

Tout lasse, tout casse, tout passe.

Vejo-te mas já não te conheço.
Falas mas não te oiço.
São outras línguas, outras palavras, novo discurso.
E o que dizes não entendo.
...
Já não existe nada.
Está tudo em caixas.
E algures há nessa tua mente,
também uma caixa negra,
onde guardas bem fundo as memórias do que passou.

Champagne Socialist

Há no ar um cheiro a novo, e pergunto-me de onde vem. É como se, de repente, tudo se revestisse de uma nova cutícula e todos os momentos se transformassem em delta 0. O tempo a partir do qual tudo começa: o ano domini das coisas.

Recebi por portas travessas, o comentário ao encontro pseudo-Nabokov de sexta-feira...
escrevia o outro: "...a very good meeting and especially good to meet T. You don’t need me to tell you that she’s first class, and I look forward to working with her ..."

Vai daí não era a descrição que esperaria de homem tão ilustrado.
Mas nos tempos de hoje em que já não se ousa falar classes, será um elogio?

"Ele é mas é um champagne socialist", comenta o meu chefe, como quem não quer a coisa.

Entretanto lá descobri a banda sonora extraordinária do dito encontro: John Dowland, virtuoso dos inícios do Século XVII. Toca a visitar o iTunes.

Sunday, June 17, 2007

Polaroid

Da boca, palavras subtis.
Enquanto isso, caminhava olhando as curvas do vestido e o sabor das ondas de um decote.

Saturday, June 16, 2007

Lolita aos 31?

Hoje conheci um homem invulgar: um pouco de poeta, um pouco de louco.

Uns olhos que entraram cá dentro sem pedir licença. A vasculhar.
Esgrima palavras com destreza, pergunta-me opiniões.

A casa, recheada de tesouros do mundo, cantos e recantos, meia covil, meia ardil.
O café quente, o diálogo aceso, as ideias mais rápidas que a sombra.

Pelos vistos, o nome dele quer dizer andar às voltas em árabe.
Mas quem ficou desorientada...fui eu.

Toca o telefone...

...dois anos e meio depois.
Meia noite e meia. E eras tu.
E como se aquele tempo de antes fosse ontem, apanhamos o fio à meada onde ficou.
Do beijo à pressa na plataforma de um comboio suburbano, neve por todo o lado, frio de rachar.

Rimos ao telefone. E falamos de nós.
Pedimos desculpa um ao outro, pelo silêncio cumprido.

Ainda assim, sabe bem saber que os momentos partilhados valem pelo que foram. Sem problemas.
Tu dizes que sim. Que te pareço igual. Sai uma gargalhada, e lá admito que os anos passaram, e com eles vieram outras tantas estórias. Para ti também. Abrimos os corações. Sobre a vida, o que sentimos, onde estamos, para onde vamos...
Tu andas a comtemplar casar-te...soas-me bem.

Ficamos com saudades.
Porque sentimos aquela mesma centelha de loucura que se acende quando estamos juntos.
Chegamos à conclusão que é como o Vinho do Porto, vai apurando com a idade.

Havemos ser bem velhinhos e há-de ser assim.
Não mais do que é. Do que foi.
Mas o que foi, não foi em vão.

Thursday, June 14, 2007

The Road Not Taken

TWO roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

Robert Frost, 1920


PS: Quando há alguém que sabe escrever o que sentimos, para quê repetir?

Wednesday, June 06, 2007

Falta muito?

Essa era a pergunta que eu incessantemente fazia ao minuto 2 de uma viagem quando era miúda.
Geralmente ainda mal tinha o carro subido a rua e lá começava eu...falta muito?
Ao que a minha mãe sabiamente contestava, falta pouco. Mesmo que faltassem os desgraçados 200 km e outras tantas curvas conturbadas da Serra do Marão, juntas com o relato do Bola Branca dos jogos do Sporting e os cartuchos de musicas do Nat King Cole.

Ainda me lembro do cheiro de tudo. De quando se passava a serra e se abriam as janelas e aquele ar quente entrava e percorria a garganta seca. E as cores gastas dos montes. E o amarelo torrado de um sol a pôr-se.
E como de repente, eu me sentia a renascer.
Bastam aqueles quilómetros e sinto sempre que vou a algum lado. Mas não são uns quaisquer. Tem de ser aqueles.

Ícaro, Março de 2004

Qualquer pássaro que se preze, menos a avestruz,
Voa porque tem umas penas especiais
Mais longas:
As penas aladas.

Às vezes a vida corta-nos as asas
E enche-nos de outras penas,
Mas isso não quer dizer
Que não sejamos capazes de voar...
As tais penas aladas é que demoram a crescer.
Como nós.

Tuesday, June 05, 2007

Conjugaison

Au présent de l'indicatif:

Je t'attire
Tu m'attires

On se retire.

Sobrehumano

Caminhamos por estreitas veredas. Levadas.
Enfrentamos dilemas.
Bate a vida mais forte dentro de nós. E o coração também.
Sentimos as coisas e o mundo alterados.
Respiramos. Suspiramos. Inquietos e ansiosos.
Até que depois se vislumbra o inesperado.
E o encontro de outros olhos, onde vemos reflectir os nossos, nos traz mais luz e calor do que julgávamos ser possível. Quem disse que o amor era da terra, se sempre vem dos astros e brilha mais que as estrelas?

Sunday, June 03, 2007

Albion: mind the gap

Deambulei por Londres outra vez.
Há qualquer coisa ali que me agrada.
Aquela escala macro, as pessoas que se vestem de forma distinta.
Como todas as ruas soam a nomes de albúns, filmes e músicas.
Como o inglês que se fala em Albion, é tudo menos britânico.
Ao ser tão cosmopolita, Londres vai sempre mais além.

Soube bem, mas soube a pouco.
Já tenho o filme da BBC.
Lá apareço qual relâmpago...de tão breve.
Sempre deu às 6:30 da manhã. Vai daí sou famosa na Ásia?