A lei de Lavoisier na poesia

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Mas a primavera nem sequer é uma coisa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.

Fernando Pessoa

Esclarecida

Às vezes chega tarde a notícia. Ou melhor ela percorre um cicuito.
E depois esperamos o eco do que dissemos, para confirmar o que sabemos.
A vida é assim. às vezes crua, tártara. Valha-nos a lucidez.

Queria que passassem rápido estas ondas de tristeza que invadem.
Mas sou hoje mais do que era há uns meses atrás.
Mais vivida, menos complicada.
Como se lentamente se desenhasse num esboço um novo perfil.
Amanhã é outro dia.

Fasquia sem igual

Ontem estava sentada à conversa, e de repente surgiu:

"Maybe you have been in love with the same guy over the past 5 years, he has become your benchmark and beyond compare..."

Os meus olhos fugiram, o anel rodou entre meus dedos, o gesto inquieto de sobressalto. Querer fugir ao que não quero ver talvez?

Nas nuvens, enquanto voava, ao som do motor do avião a frase ecoava dentro de mim.
Terei eu própria traçado um limite para além do tudo, meio mito meio verdade? Porque o que nunca é pode tudo ser. Poderia pois. E viveríamos felizes para sempre.

E continuei a matutar.
Caía a chuva por fora das janelas do eléctrico e caíam as minhas lágrimas também.
E cheguei a casa e chorei. Chorei por alguém que não chega, por alguém que não vem.

Colmeia

Enquanto desbravava um livro encontrei um excerto de Antonio Machado, poeta espanhol, que me despertou:

Last night while I lay sleeping
I dreamt - oh blessed illusion-
that a beehive I was keeping
inside my heart;
And from my bitter, rotting
failures, golden bees
were making
a pure white comb with the sweetest honey